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O Manifesto da Garota

"Desabafos resultados de fraquezas", música, politiquices, opiniões gratuitas e posts sem conteúdo. Acima de tudo, vida, muita vida!

O Manifesto da Garota

"Desabafos resultados de fraquezas", música, politiquices, opiniões gratuitas e posts sem conteúdo. Acima de tudo, vida, muita vida!

Carta aberta...

 

Há situações em que não há nada a fazer. Não podes fazer nada a não se esperar o que se vem anunciando. E vais aguentando, e arranjando forças em todo o lado. Vives na dormência porque não podes cair na realidade, sob pena de não aguentares a pressão ridícula que se põe nos teus ombros.  E tu és apenas tu. És só vítima! Mas tens de aguentar o barco, mante-lo à tona, por ti e pelos que já estão demasiado fracos para continuar… sabendo que estás a remar em vão.

Há alturas em que está tudo mal. Tudo do avesso. E não podemos fazer nada. Temos que aguentar e aguentar. Só isso. Não há outra coisa mais a não ser a angústia no peito. O aperto no coração que fica pequenino e que está lá sempre. É tão constante que nos habituamos a ele, à dor, e passa a ser como se de uma mão dormente se tratasse. Está ali… a moer… dói… mas não ligamos. Não ligamos e não podemos ligar. Temos que ser fortes. Temos que aguentar porque não há nada a fazer. E então deixamos de viver. Nem podemos. Não conseguimos. Passamos a estar. Só. Limitamo-nos a estar, um dia após o outro, um dia de cada vez. Estamos ali… e tudo nos sobressalta, porque estamos à espera que o inevitável aconteça. O toque do telefone, alguém que nos chama… Queremos paz, sossego, descanso. Queremos não sair da rotina e acima de tudo, que ninguém nos diga nada. Que ninguém nos fale da causa do nosso sofrimento… que ninguém nos toque na ferida. Não se consegue falar dela. Não podemos falar dela. É demasiado real se se falar dela e não pode ser porque assim, caímos. Não podemos cair. Não podemos mostrar que estamos mal. Os outros não se podem preocupar connosco. Não podem porque já há outras preocupações, as más, as que fazem doer o peito e cair o coração.

Que não nos digam nada. Que não nos peçam calma, que não nos digam que entendem, que é mau, que vai ficar tudo bem, que passa… que não nos digam nada porque nada disso adianta, nada disso resolve o que não tem resolução possível. Como podemos ter calma quando temos o nosso mundo a ruir? Quando temos os pilares que nos sustentam a terem que se sustentar a si? Como é que nos podem dizer que passa, quando o que interessa é o agora? O hoje? E hoje não está a passar? Como podem dizer que vai ficar tudo bem quando o desfecho é tão trágico?!

Que nos deixem estar… só estar. Acordar e sair, trabalhar e voltar. Só isto. Uma rotina sem excepções e, de preferência, sem surpresas. Uma rotina que nos permita não pensar no coração pequenino e angustiado que carregamos e que pesa uma tonelada. Que nos permita fugir da fatalidade do que se está a passar. Queremos paz.

Mas estas merdas doem. Doem e moem e torturam. E não podemos, não queremos cair. Não queremos mostrar fragilidade. Não queremos mostrar dor. Sofrimento… tristeza. E custa segurar este barco. Custa remar contra a maré, custa continuar a remar quando sabemos que vamos ser engolidos por uma onda e levados abaixo. É só mais um bocado. Só tenho de aguentar mais um bocado. E aguentamos. Vamos desencantar forças aos recantos de nós, e ainda conseguimos sorrir. E sorrimos! E quem olha para nós acha que temos tudo sob controlo e cá dentro estamos destruídos. Não vemos escapatória, não vemos momentos bons, não há luz ao fundo do túnel. Nada.

Mas os olhos, esses… os olhos têm a tristeza de uma vida inteira ali espelhados. E essa não se consegue fingir. Espelham a dor que nos consome e não a podemos disfarçar. As coisas não vão ficar melhores… de facto. Ninguém te pode enganar com uma coisa dessas. As coisas vão ficar diferentes. Até lá, a solução é remar mais um bocadinho, suportar o sofrimento mais um bocadinho. Aguentar mais um bocadinho. Mas não tenhas medo de mostrar fraqueza. És humano. E é humana a preocupação que sentes, a impotência que sentes, a dor que sentes! Um dia de cada vez, aproveitando os minutos o melhor que se consiga. Sem pensar se amanhã haverá minutos ou não. Um dia de cada vez. Só. Tentando fazer crescer dentro desse coração a certeza de ter aproveitado muito, de ter gozado muito, para que mais tarde todas as memórias tragam só saudade, e não mágoa. Tragam sorrisos e não lágrimas.

 

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