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Devia escrever. Aliás, disseram-me mesmo para escrever e escrever e escrever este assunto até não dar mais. Mas não há palavras que me sirvam no peito para aligeirar o que falta. Não há palavras, textos, manifestos grandes o suficiente para tapar o buraco. Tudo o que tente aqui pôr fica longe do vazio. Longe. A milhas, que esta saudade que trago não caberia na distância da terra à lua.
Há pessoas que nos fazem falta. Não é de mais nada que não a sua presença na nossa vida. Há pessoas que nos fazem falta porque se enraizaram no peito. E não há nada que acalme a dor senão o senti-la até à dormência para que possamos acordar depois, renovados de energias para lhes voltar a sentir saudade. Só. É ciclico. Estou bem durante um tempão e um dia, sem avisos, uma pergunta, uma palavra, um comentário, uma imagem ou uma rua fazem despoletar em mim todas as memórias. Como se a gaveta estivesse em constante pressão com a quantidade absurda de coisas que lá não cabem e, do nada, abre-se e rebentam memórias por todo o lado. E passam-me à velocidade da luz picando-me a alma como alfinetes e despertando a saudade. E depois, vêm as lágrimas que já não correm e segue-se o choro silêncioso e constante, respiração cadênciada, que acompanha o descompasso do coração. Até que o sono invede, os olhos fecham e as memórias se transformam em sonhos, onde a vida é perfeita e tudo corre como devia. E o coração sossega, as saudades acalmam durante o período de euforia, só para retomar tudo outra vez, no dia seguinte, no regresso à realidade.
E não há força de vontade capaz de repor o sorriso. Porque há dias em que sorrir é tarefa herculea e não atenua a dor. Há dias em que sorrir desgasta e a saudade tem que ser sentida, doída, vivida. De olhos vidrados e ar nostálgico. Há dias em que tem que ser assim. Hoje é assim.