A inevitabilidade.
Domingo acordei cedo, com o Zé a pedir rua e brincadeira. Levantei-me atabalhoada, alardeada de todo, depois de duas noites em que bebi muito, fumei mais, e dormi pouco para lhe aceder aos pedidos.
Deitei-me, mais tarde, após satisfazer os reais pedidos caninos, no sofá, quando o telefone toca, trazendo a notícia que aguardei durante todo o fim-de-semana. A inevitabilidade atingiu o meu Garoto, o meu Piqueno Marx, quando eu estava a quilómetros de distância. A inevitabilidade chegou e eu não podia fazer nada. Nada do que fizesse ou dissesse surtiria qualquer tipo de efeito. A inevitabilidade veio, e veio para fazer dele o super-homem, para fazer dele uma pessoa crescida e pilar dos que lhe são pilares também. E eu não podia fazer nada.
Mas estive lá. E entrei, a medo, com medo dele... e dela. Com medo de melindrar, de acharem que estava a provocar quando eu só queria mesmo estar lá para ele naquela que era a pior hora de todas. Entrei com as pernas a tremer, feitas em gelatina. Entrei e olhei à volta. Procurei-o. Vi-a. Tremi. Vi-o. Ele viu-me. Olhei-o e, a medo, muito muito medo, trocámos dois beijos, guardando uma distancia de segurança. E, de repente, sem aviso, quando eu preparava para me afastar e deixá-lo ser engolido pelo mar de gente à sua volta, quando a cara dele se desencosta da minha e tudo indica que ele vai voltar para o lado da mãe, ele abraça-me. Abraça-me mesmo, com a força de mil abraços que haviam ficado por dar, cheios de gratidão, conscientes de que eu não menti nunca quando lhe disse que jamais lhe falharia, que estaria para ele sempre que ele precisasse.
E, no fim de tudo, quando volto junto dele para me despedir, quando o olho nos olhos e me dirijo a ele com as nossas palavra, senti todo o amor do mundo correr-me nas veias e inundar-me os olhos. E abracei-o. E ele abraçou-me.