Dos animais nos restaurantes
A celeuma à volta desta questão, provocada por machetes pouco esclarecedoras e que nada mais pretendem que não incendiar os ânimos (nada de anormal na nossa imprensa), fez com que eu venha aqui deitar a minha posta de pescada que, como qualquer outra valerá o que vale.
Antes de mais, acho que ainda ninguém percebeu que o que a lei vem permitir é que os proprietários dos estabelecimentos decidam, por si, deixar entrar ou não os animais de companhia. Isto quer dizer que não, não vamos "levar" com cães e gatos em todo o lado. Só onde o dono do estabelecimento permitir.E não me argumentem com a questão dos medos e das alergias. A partir do momento em que sei que determinado estabelecimento permite animais de companhia, posso escolher um que não o faça para estar à vontade. "Ah, mas diminuis a possibilidade de escolha e eu não tenho que deixar de ir a um sítio onde vou sempre porque agora tenho que levar com o rafeiro de não sei quem." - certo, mas se o dono quer permitir a entrada de animais, vão fazer o quê? Ingerir-se no direito de escolha do dono do estabelecimento? Exactamente como a história dos sítios onde ainda é permitido fumar - "Ah porque eu não fumo, não tenho que levar com o fumo dos outros!", tudo certo, escolham um café onde não se fume.
Noutros países da Europa é frequente ver cães com os donos em restaurantes e já partilhei o espaço da minha refeição com um canito ao lado sem que este ladrasse, pedisse comida, fizesse xixi ou cócó. Basicamente, não fosse eu louca pelos bichos e aquilo uma novidade para mim, nem me tinha dado conta do mesmo. O que me leva ao ponto dois: bom senso.
Sei que temos a mania de que os portugueses são todos parvos e que o bom senso não abunda na Tugalândia, mas permitam-me discordar. Sou dona de um canito, como sabem, e bem vos digo que, com uma excepção ou outra, não o levarei a um restaurante. Isto porque conheço Zé Cão bem demais para saber que ia ter uma refeição desgastante, com ele todo tonto com o cheiro das comidas e a querer pedir festas a meio mundo. Sei que seria um sofrimento para ele e para mim. Sei que não sou bitola para ninguém, mas quero acreditar que uma boa parte dos donos dos patudos deste País consegue perceber ou conhece o seu bicho bem o suficiente para saber se será de levar a um restaurante para uma refeição demorada sem que incomode os outros clientes e, mais ainda, sem que o incomode a si próprio. Porque, às vezes, o meu cão faz coisas que me incomodam e me criam mais ansiedade a mim do que ao outro, não duvidem.
Posto isto, tenham calma e deixem-se de merdas e de boicotes. Se têm direitos enquanto não donos de animais, eu também os tenho enquanto dona. E, já que falamos disso, maior direito terão os donos dos estabelecimentos na decisão de quem entra e em que termos nos seus estabelecimentos. Atinem-se e preocupem-se antes com coisas de maior importância na vossa vida, como o encerramento de não sei quantos postos de correios neste País!