"companheiro", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa
Ontem, enquanto falava com Casa, disse-lhe que uma das coisas mais bonitas que vejo nas gentes do meu Partido é o tratar do marido/mulher, namorado/namorada por companheiro.
Vejo nisto um doçura inimaginável, um respeito pelo outro enquanto individuo que, juntamente connosco, percorre a jornada da vida. Acentua-se a beleza desta palavra, empregue nestas circunstâncias, porque me lembro do meu avô falar da minha avó como a sua companheira. E, bem sabemos, se vem da boca do meu avô, é sempre mais bonito.
Na verdade, não quero mais que isso, se é que quero alguma coisa. Alguém que me acompanhe, que partilhe comigo a vida e me ajude a ser o melhor de mim. Alguém que eu possa acompanhar e ajudar a ser o melhor de si. Um parceiro na vida. No bom e no mau. Que desçamos juntos o rio do tempo. Numa canoa. Remando em frente. Permitindo o descanso momentâneo do outro.
No fundo, alguém que saiba que sou eu, individuo por mim, que não depende de ninguém, mas que com o outro certo, pode ser melhor.
E alguém que, em dias como o de ontem, me dê um abraço. Foda-se, que ontem precisei tanto de um abraço.
"Nas línguas em que a palavra compaixão não se forma com a raiz «passio = sofrimento» mas com o substantivo «sentimento», a palavra é empregue mais ou menos no mesmo sentido, mas dificilmente se pode dizer que designa um sentimento mau ou medíocre. A força secreta da sua etimologia banha a palavra de uma outra luz e dá-lhe um sentido mais lato: ter compaixão (co-sentimento) é poder viver com o outro não só a sua infelicidade mas sentir também todos os seus outros sentimentos: alegria, angústia, felicidade, dor.
Esta compaixão (no sentido soucit, Mitgefühl, medkänsla) designa, portanto, a mais alta capacidade de imaginação afectiva, ou seja, a arte da telepatia das emoções. Na hierarquia dos sentimentos, é o sentimento supremo."
Percebes que tens muitas dificuldades em falar do que sentes, principalmente quando não é bom ou bonito. É-te difícil confrontar o outro com a dor que te causou, porque, na verdade, sempre foste desencorajada de o fazer. Crias medos. Medo de falar e ser ridícula. Medo de que a outra pessoa se chateie - wtf? - medo de que não percebam. E vais digerindo as dores de uma vida sozinha, sem que os outros saibam as dores que te causaram-.
Aos 30, percebes que isso não tem razão de ser, que te entristece e envenena. Aos 30 abres-te francamente e sentes-te mais leve 50kg. Aos 30 sorris porque tens alguém na tua vida que te permite sentir confiança suficiente para poderes falar até sobre a dor que te causou sem medos. Aprendes mais sobre ti e cresces.