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O Manifesto da Garota

"Desabafos resultados de fraquezas", música, politiquices, opiniões gratuitas e posts sem conteúdo. Acima de tudo, vida, muita vida!

O Manifesto da Garota

"Desabafos resultados de fraquezas", música, politiquices, opiniões gratuitas e posts sem conteúdo. Acima de tudo, vida, muita vida!

Desabafos da minha precariedade

Licenciei-me faz, no início do próximo mês, cinco anos. Sou, de acordo com a minha professora de economia política, daquela que é a geração dos 1000. Aqueles que nunca vão passar dos 1000 euros de salário. Tive a sorte, ao contrário de alguns dos meus colegas, de arranjar trabalho 3 meses após o fim do curso. Nunca quis fazer parte da ordem profissional porque nunca quis ingressar naquele que muitos acham ser a única saída profissional do meu curso. Sai do meu primeiro trabalho porque quis, tive um convite para uma área que me agrada mais e na cidade do meu coração - Lisboa. Voltei para um trabalho de sonho. Um contrato a termo de 6 meses que, inicialmente, seria para substituir uma colega de baixa. Mas a colega voltou e eu lá fiquei. 2 anos. 3 renovações. 4 contratos. Chegada a hora da verdade fui para a rua, decisão que abalou todos os alicerces de quem sou. Que me fez questionar tudo aquilo em que acredito e que me abriu os olhos para me mostrar que há gente má em todo o lado. Foi quase um ano de desemprego e desespero. Com contas para pagar e menos 300€ de ordenado ao fim do mês. Fui a mil entrevistas. Tive propostas ridículas. Ofereceram-me 100€ por mês pelo meu trabalho qualificado. Sem horários que, ao contrário do que pensam, não é bom. A recibos verdes. Desesperei vezes sem conta. As minhas contas viraram-se do avesso. Ao fim de 8 meses arranjei trabalho. Precário. Mas trabalho. Uma oportunidade fantástica. E com 3 anos de experiência profissional fui fazer um estágio emprego. Não há mais ninguém com a minha função e as minhas habilitações ali. O salário? Recebo o mesmo que recebia de subsídio de desemprego. Mudei-me para fora de Lisboa, no entretanto, porque as rendas não se dão bem com desempregados, lá na cidade. Ganhei qualidade de vida. Gasto menos dinheiro mas, mesmo assim, todos os meses é uma luta para chegar ao fim. Valha-me o meu pai. Este mês está a ser particularmente difícil. O meu estágio está a acabar e o futuro é incerto. E eu quero certezas e tenho direito a elas. E nestas alturas, calejada pela traição de tempos idos, não se acredita em nada e os pés estão os dois atrás. Quero uma vida estável. E um salário que me deixe pagar as contas e ir ao cinema, pagar um jantar ao meu namorado, sair para beber um café. Não faço nada disso. Hoje disseram-me até que vivia sozinha por opção. Que podia ter ficado em casa do meu pai. Não podia. E mesmo que pudesse, tenho direito à minha vida e não posso permitir que o estado da nação me tire isso também. Mas hoje, esta semana, está a ser especialmente penosa. Falta uma semana para receber. Uma semana. E eu já faço contas ao que vem e ao que vai e penso que estudei tanto, mas tanto para isto. E é um desanimo, caros amigos. Porque investimos tanto em nós e para as empresas que só vêem lucros, trabalhadores são despesa. Não se pensa nunca que sem trabalhador não há lucro. Que trabalhador desmotivado é prejuízo. E esta incerteza da cabo de qualquer um. Não saber como vai ser amanhã. Não saber se continuarei à procura porque pretendemos sempre mais e melhor, ou se intensifico a busca porque preciso de comer. E isto cansa. A precariedade cansa. O saber que sou um estágio que ocupa um posto de trabalho cansa. E eu estou cansada deste cansaço e preocupação. Quero uma vida digna. Quero fazer planos e ter férias. Quero poder divertir-me e gozar a minha juventude. Quero reconhecimento do meu mérito. Quero ser uma pessoa e não um número. Não sou um cifrão. Não sou um custo. Sou pessoa. Sou vida. Deixem-me viver.

Conto de mim.

Vivia fora da sua cidade Natal e gostava. No entanto, nunca tivera um namorado na cidade onde morava. Não é que não tivesse namorado. Tinha. Mas estavam sempre separados por largas centenas de quilometros. Estavam juntos todos os fins-de-semana ou quase. Falavam todos os dias, sentiam saudades. Mas funcionava, para ela. Nunca permitiu que ninguém daquela cidade se aproximasse. Não nesses termos, pelo menos. E isto tinha uma razão de ser forte que ela percebera anos mais tarde. Sozinha naquela cidade nova que era a sua casa mantivera a sua postura de criança-crescida e independente. Teve que sê-lo sempre. Não conhecia outra forma de estar na vida, nunca pudera contar com ninguém. Ter um namorado ali seria aceitar uma muleta - não no mau sentido, mas ela não estava preparada para isso. Estava habituada a ser ela contra o mundo, a nunca baixar os braços. Se isso mudasse... se corresse mal... aquela cidade já não seria só dela, porque dias houve em que a partilhou com alguém. Em que teve alguém que se preocupou com ela, que se riu com ela, que a apoiou, que a abraçou, com quem pôde, finalmente, baixar os braços e cair, pois haviam outros braços para a segurar. Sabia que tudo mudaria no dia que se permitisse amar ali.

 

Mas o mundo dá voltas e não há cá "desta água não beberei". Para ser franca, ela sabia que, eventualmente, sem nunca ter pensado nisso com muita seriedade, encontraria alguém ali. Já trabalhava, não fazia conta de voltar para a terra Natal. O mundo estava um caos de problemas económicos e o trabalho era escasso. Ali, onde se encontrava, haveria mais oportunidades e a possibilidade de continuar a sua formação académica. Tinha a cabeça no sítio e os objectivos muito claros. Não queria sair dali. Mas ia querer uma relação estável. Ia querer um namorado que lhe desse valor. Uma família. E se queria ficar ali, era possível que tivesse que abrir uma excepção.

 

Quando aconteceu, porque era inevitável, estava relutante. Mas tudo aquilo era tão... maravilhoso, que qualquer relutância era afastada ao vislumbre do sorriso, dos olhos brilhantes e rasgados, do abraço tão perfeito que parecia feito à medida. Foi vivendo assim... feliz, deixando-se cair, como naqueles exercícios de confiança que se fazem, e os braços dele apanharam-na sempre.

 

Até que um dia o vento mudou e trouxe nuvens cinzentas. Começou uma tempestade sem fim e ele partiu. E ela vira-se sem muleta, sem bengala, sem puder baixar os braços e a já não saber viver assim. De repente, o mundo virou e ele não estava lá mais. De um dia para o outro, ela teve que reaprender a enfrentar a cidade deles sozinha, e já não a conhecia. Já não sabia os atalhos, já não conhecia os cafés. Teve de abrir os olhos, tristes, levantar a alma negra e seguir em frente, mas já não sabia onde era o norte.

 

De um dia para o outro, o mundo dela, parou. Deu um dia para o outro não havia mais tu e eu, e apenas eu, sozinha, a reaprender um mundo que já não é meu.

 

 

Outra coisa que também me faz confusão (ou hoje tenho a veia mal dizente cheia de pujança)

 

Profissão: Blogger. 

 

Mas ser blogger é profissão? Não há um campo para pôr website? Mas quê, não fazemos mais nada da vida? Aiiii meu rico blog, se me fizesses uma gaja cheia de tostões, eu, ainda assim não deixava os meus Decretos-lei, as minhas propostas de Lei, os códigos, anotações, comentários. A celebração de contratos e a hermeneutica jurídica. Não gozem. É verdade... nem tinha paciência para andar constantemente a pesquisar coisas para aqui pôr. Aliás, não o faço. O meu blog não é uma obrigação e eu sei que vocês gostam disso :)

 

Sou bipolar.

De manhã estava. Estava só. Nem bem nem mal. Estava. Tipo piloto automático. Acordei, levantei-me, comi, Zé, comida do Zé, água do Zé, lavar a cara, escovar o cabelo, escovar os dentes, sair, café, autocarro, sair. Isto. Só assim. Agora há uma luz no peito e só me apetece gostar de coisas. Gosto de gostar e isso não é necessariamente bom. Gosto. E, se não fosse o meu gosto pelas letras, este post estúpido resumia-se a isto:

 

 

Gosto, gosto, gosto.

Eu.

Andava ansiosa pela mudança. Queria tanto ir para a MINHA casa (não me canso de dizer isto), que me sujeitei a fazer a mudança debaixo de chuva. Fiquei com o chão todo sujo, vai dar uma trabalheira a limpar, mas não interessa. Porque é a minha casa. 

 

A primeira noite foi estranha. Já vos disse, é esquisita esta coisa de a minha casa. Minha. Eu. Só eu. E o Zé. Sozinha, sem alma semelhante. Pensei cá para mim "J.B., tu vai borrar-te de medinho quando chegar a hora de apagar a luz e começares a ouvir barulhos!" e verifiquei umas quinhentas vezes se tinha a porta trancada. Até que me dei duas chapadas mentais, e me sentei no sofá, com a aparelhagem ligada, e tudo escuro. O Zé, esse, saltou logo lá para cima e aninhou-se no meu colo (está estranho. ainda não comeu nada! NADA!). Fiquei ali, a curtir a minha paz.

 

Pensei em tudo. Como é que eu ia imaginar poder fazer isto? Ter 24 anos e sair de casa. Assim, sem contar com ninguém. Não estamos a falar de ir estudar para longe e arrendar um quarto. Não. Tenho o meu apartamento. Com as despesas inteiramente por minha conta. Senti-me em pânico! E se eu não conseguir?! Não posso contar com os meus pais! Isto é uma loucura. Dei-me mais duas chapadas mentais. Afinal, antes de decidir isto, fiz contas e mais contas e mais contas à minha vida. Dá!

 

Olhei para o último ano e meio. Desde Agosto de 2011 que não paro de crescer enquanto ser humano. Um crescimento pessoal tão grande que não me revejo na J.B. que namorou com o B.. Aliás, questiono se ele serviria para a J.B. de hoje. Se me faria feliz. Quando dormi, sonhei a minha vida toda. Passei por coisas que gostava de esquecer, que levo a vida a esconder, mas que fazem parte de mim e, percebido isso, aceito-as. No meu sonho, tive 12 anos, vivi as discussões dos meus pais outra vez, vivi o divórcio, o meu primeiro namorado, a mudança de escola, o projecto de bullying tentado por parte de um grupo de tristes que ainda hoje não suporto e que viram o seu objectivo frustrado, porque, de facto, eu sou uma gaja do caralho, osso duro de roer. E quanto mais elas tentavam "destruir-me", mais eu levantava o nariz.

 

Voltei a viver a mudança de cidade, a entrada para a faculdade e os dias complicados na adaptação. Sou uma pessoa tímida. Muito tímida. Não foi fácil. Mas também voltei a conhecer os meus amigos, que ainda o são e vão ser para sempre. Pessoas maravilhosas que se tornaram na segunda família. Viajei entre a Santa Terrinha e Lisboa. Acabei com o primeiro namorado, depois de quase cinco anos, porque percebi que tinha que me valorizar. Arranjei outro. Algarvio. As viagens começaram a dividir-se pelo país, entre Lisboa - Santa Terrinha, Lisboa - Algarve. Entretanto, percebi que, ao fim de quase 2 anos, o esforço para estarmos juntos era só meu. Não quis aquilo. Acabou.

 

Continuei a minha vida, vivi um verão intensa e plenamente, até que apareceu o B.. Esta história vocês já conhecem. Continuei o curso. Acabei o curso. Voltei para a Terrinha. Três meses depois arranjei trabalho na área. Estive um ano. Não correu bem. Ao fim de seis meses só queria Lisboa outra vez. Consegui voltar... e aqui estou.

 

Eis-me, nova pessoa. Que nada tem a ver com quem um dia fui. Eis-me, depois de ter sofrido o primeiro grande desgosto de amor, à terceira relação. Depois de ter enfrentado coisas que nem aqui vou referir. Estou grande. Crescida. Adulta... Sou uma pessoa madura. Só me falta voltar a ser a pessoa confiante que sei que sou. Só falta isso. Mas, se é para ser quem sou hoje, tudo o que passei valeu a pena.