"Nas línguas em que a palavra compaixão não se forma com a raiz «passio = sofrimento» mas com o substantivo «sentimento», a palavra é empregue mais ou menos no mesmo sentido, mas dificilmente se pode dizer que designa um sentimento mau ou medíocre. A força secreta da sua etimologia banha a palavra de uma outra luz e dá-lhe um sentido mais lato: ter compaixão (co-sentimento) é poder viver com o outro não só a sua infelicidade mas sentir também todos os seus outros sentimentos: alegria, angústia, felicidade, dor.
Esta compaixão (no sentido soucit, Mitgefühl, medkänsla) designa, portanto, a mais alta capacidade de imaginação afectiva, ou seja, a arte da telepatia das emoções. Na hierarquia dos sentimentos, é o sentimento supremo."
Ontem, chegada a casa de um casamento cigano de dois dias, vi este destaque do Sapico. Obriaga Sapo e todos os que por cá passaram.
Entretanto, faço-vos já o update: depois de abrir o livro numa página ao calhas e contar 40 vírgulas e alguns pontos finais, o problema passou a ser a falta de travessões, exclamações e interrogações. É isto.
Tenho tido muito tempo para ler, é verdade. Ainda assim, não tenho lido tanto quanto gostasse. No final do ano passado, antes de entrer de "férias", os meus amigos fizeram-me uma surpresa, no Festival das Francesinas, na FIL.
Nesse dia ofereceram-me uma edição de um livro que eu já li, há muitos muitos anos, e que agora releio, com outros olhos.
Esta edição ilustrada pelo Rogério Ribeiro, com prefácio de Óscar Lopes é a minha nova relíquia. Quando li, pela primeira vez, o "Até amanhã, Camaradas" pouco sabia da coisa. Era para mim mais uma história, sobre o partido do meu avô e os camaradas dele. Devia ter uns 11 ou 12 anos. Apanhei-o e devorava-o à noite. Sabia apenas que o autor, o Manuel Tiago, era a fingir, e que quem o tinha escrito era o senhor das sobrancelhas farfalhudas e brancas, que eu vira umas vezes em sítios com muita gente, a falar ao microfone. As pessoas chamavam-lhe o Camarada Álvaro e eu sabia apenas que ele era uma pessoa importante.
Hoje, 14 ou 15 anos depois dessa primeira abordagem, folheio o livro que marca a história de um partido, sobre a sua actividade na clandestinidade e que, não deixado de ser um conto (um dos mais belos), é o testemunho escrito de uma realidade que não está assim tão distante.
O Álvaro era um homem singular e culto, de escrita térrea e fácil. Sim, é fácil perder-me horas com este amigo, que, talvez pela "proximidade" do seu tema, me faz sorrir, e tremer, e temer. Me deixa os olhos rasos de lágrimas, e a pensar, muito seriamente, que não quero voltar ao antigamente.
Este é o meu livro de cabeceira, e acredito que por lá ficará para que, sempre que me apetecer folheá-lo, me esteja perto.
"Maria agarrou a mão do camarada.
- A tua família?
- Família? A minha família é o Partido, és tu, são os camaradas. Não tenho outra família"